Como sabes, na antiga Grécia eram adorados diversos deuses que viviam no monte Olimpo.
Conta-se que um dia, Júpiter e Mercúrio, dois desses deuses, resolveram descer à terra miseravelmente vestidos, para que, assim disfarçados, pudessem misturar-se com os homens e observar os seus comportamentos. Visitaram, então, uma região chamada Frígia.
Quando Júpiter e Mercúrio passavam na rua, os rapazinhos, que eram malcriados, troçavam deles; os cães perseguiam-nos, sem que os donos lhes fizessem sinal para se aquietarem. Mercúrio, ao ver isto, quis logo fazê-los a todos em estátuas de pedra, tão zangado estava por os ver tão maus; mas Júpiter disse-lhe que tivesse paciência:
- Não faças nada. Vamos a ver, Mercúrio, em que tudo isto vem a dar.
Foram assim caminhando até que saíram da cidade. E, tendo saído, viram à esquerda da estrada uma casita pobre.
Era já pela tardinha. O velho e a velha que lá moravam [...] estavam ali sentados num banco, à porta da sua casa. Banco muito tosco, casa muito simples: pois que Filémon e Báucis, os donos dela, eram tão pobrezinhos quanto Júpiter e Mercúrio pareciam ser.
Mas não eram maus, como a gente da cidade. Bem pelo contrário. Por isso, quando os dois deuses se aproximaram da cancela, Filémon e Báucis levantaram-se, e vieram dizer-lhes com muita bondade:
- Entrem, amigos, entrem. Entrem e descansem, se estão cansados da sua viagem! [...]
- Tenho muita pena - disse a velha Báucis - de não haver cá em casa boa comida para lhes dar. Mas alguma cousa se arranjará.
Quando a ceia estava pronta, chamou os hóspedes. [...]
Báucis, coitadinha, estava com medo de que o leite não chegasse, porque os dois deuses tinham muita sede. E quando Mercúrio pediu leite pela terceira vez, não teve remédio senão dizer-lhe:
- Tenho muita pena, mas acabou-se. [...]
Mercúrio piscou o olho para Júpiter, e sorriu, sem que Báucis desse por tal; e tornou a pedir:
- Ora experimente. Experimente sempre deitar no meu copo, que talvez ainda haja uma gotinha, lá no fundo da leiteira... [...]
Báucis pegou na leiteira, e inclinou-a completamente sobre o copo de Mercúrio. E qual não foi o seu espanto quando o leite saiu dela, e em tal quantidade que encheu todo o copo, e ainda se entornou pelo chão da casa! [...] - Filémon, Filémon, que é isto? São deuses com certeza, Filémon! [...]
- Não se assustem, amigos - disse-lhes Júpiter com voz doce. - É verdade que somos deuses. Eu sou Júpiter, este é Mercúrio; mas pessoas como vocês, que não fizeram mal nenhum, não devem ter medo da presença dos deuses. E como mostraram ser boas pessoas, vou-lhes dar uma recompensa. Vivam sempre muito amiguinhos; nunca na leiteira lhes falte bom leite, por muito que o bebam; nunca se acabe o pãozinho escuro, por muito que o comam; e haja sempre alegria e sempre mel puro, das abelhas que voam nesta casa feliz! E agora, digam que mais querem que façamos por vocês. [...]
- Oh Júpiter, bom e poderoso Júpiter, tudo o que te pedimos é que morramos no mesmo dia! Não deixes um de nós viver ainda, depois de o outro ter morrido! [...]
- Assim será - respondeu Júpiter. - E agora, adeus, amigos! Terão o que querem! [...]
António SÉRGIO, "Filémon e Báucis", in Contos Gregos (com supressões)
Conta-se que um dia, Júpiter e Mercúrio, dois desses deuses, resolveram descer à terra miseravelmente vestidos, para que, assim disfarçados, pudessem misturar-se com os homens e observar os seus comportamentos. Visitaram, então, uma região chamada Frígia.
Quando Júpiter e Mercúrio passavam na rua, os rapazinhos, que eram malcriados, troçavam deles; os cães perseguiam-nos, sem que os donos lhes fizessem sinal para se aquietarem. Mercúrio, ao ver isto, quis logo fazê-los a todos em estátuas de pedra, tão zangado estava por os ver tão maus; mas Júpiter disse-lhe que tivesse paciência:
- Não faças nada. Vamos a ver, Mercúrio, em que tudo isto vem a dar.
Foram assim caminhando até que saíram da cidade. E, tendo saído, viram à esquerda da estrada uma casita pobre.
Era já pela tardinha. O velho e a velha que lá moravam [...] estavam ali sentados num banco, à porta da sua casa. Banco muito tosco, casa muito simples: pois que Filémon e Báucis, os donos dela, eram tão pobrezinhos quanto Júpiter e Mercúrio pareciam ser.
Mas não eram maus, como a gente da cidade. Bem pelo contrário. Por isso, quando os dois deuses se aproximaram da cancela, Filémon e Báucis levantaram-se, e vieram dizer-lhes com muita bondade:
- Entrem, amigos, entrem. Entrem e descansem, se estão cansados da sua viagem! [...]
- Tenho muita pena - disse a velha Báucis - de não haver cá em casa boa comida para lhes dar. Mas alguma cousa se arranjará.
Quando a ceia estava pronta, chamou os hóspedes. [...]
Báucis, coitadinha, estava com medo de que o leite não chegasse, porque os dois deuses tinham muita sede. E quando Mercúrio pediu leite pela terceira vez, não teve remédio senão dizer-lhe:
- Tenho muita pena, mas acabou-se. [...]
Mercúrio piscou o olho para Júpiter, e sorriu, sem que Báucis desse por tal; e tornou a pedir:
- Ora experimente. Experimente sempre deitar no meu copo, que talvez ainda haja uma gotinha, lá no fundo da leiteira... [...]
Báucis pegou na leiteira, e inclinou-a completamente sobre o copo de Mercúrio. E qual não foi o seu espanto quando o leite saiu dela, e em tal quantidade que encheu todo o copo, e ainda se entornou pelo chão da casa! [...] - Filémon, Filémon, que é isto? São deuses com certeza, Filémon! [...]
- Não se assustem, amigos - disse-lhes Júpiter com voz doce. - É verdade que somos deuses. Eu sou Júpiter, este é Mercúrio; mas pessoas como vocês, que não fizeram mal nenhum, não devem ter medo da presença dos deuses. E como mostraram ser boas pessoas, vou-lhes dar uma recompensa. Vivam sempre muito amiguinhos; nunca na leiteira lhes falte bom leite, por muito que o bebam; nunca se acabe o pãozinho escuro, por muito que o comam; e haja sempre alegria e sempre mel puro, das abelhas que voam nesta casa feliz! E agora, digam que mais querem que façamos por vocês. [...]
- Oh Júpiter, bom e poderoso Júpiter, tudo o que te pedimos é que morramos no mesmo dia! Não deixes um de nós viver ainda, depois de o outro ter morrido! [...]
- Assim será - respondeu Júpiter. - E agora, adeus, amigos! Terão o que querem! [...]
António SÉRGIO, "Filémon e Báucis", in Contos Gregos (com supressões)
Imagem retirada da Internet |
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